sábado, 20 de setembro de 2008

Quem morre?

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca, não arrisca vestir uma cor nova
e não fala com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o escuro ao invés do claro
e os pingos nos “ís” a um redemoinho de emoções,
exactamente as que resgatam o brilho nos olhos,
o sorriso nos lábios e coração aos tropeços.
Morre lentamente quem não vira a mesa
quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto, para ir atrás de um sonho.
Morre lentamente quem não se permite,
pelo menos uma vez na vida, ouvir conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, não lê,
quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte,
ou da chuva incessante.
Morre lentamente quem destrói seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
nunca pergunta sobre um assunto que desconhece
e nem responde quando lhe perguntam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em suaves porções,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples ar que respiramos.


[Pablo Neruda]


Rota de notapé da minha agenda mental:
Lembrar que algumas mortes são inevitáveis.

[Foto: Kafarnak.]

Um comentário:

Anônimo disse...

A mente se (re)sente,
Porke não sente.

O koração perde a razão,
Porke (pre)sente.

Mas não mente...