sábado, 16 de agosto de 2008

Quintana revisitado.


"Essa lembrança que nos vem às vezes...
folha súbita
que tomba
abrindo na memória a flor silenciosa
de mil e uma pétalas concêntricas...
Essa lembrança...
mas de onde? de quem?
Essa lembrança talvez nem seja nossa,
mas de alguém que, pensando em nós, só possa
mandar um eco do seu pensamento
nessa mensagem pelos céus perdida...
Ai! Tão perdida
que nem se possa saber mais de quem!" - [Mário Quintana]


Hoje tanta coisa fez sentido. É tão fácil lembrar quando se quer esquecer. Quintana já escreveu sobre este desfecho, mas será que eu nunca esqueço de lembrar que te esqueci? Eu já me despedi dessa parte de mim da qual você fez parte, mas que de alguma forma teima em permancercer viva. Colorida. Isso tudo existia em mim antes de você aparecer. Quando você apareceu, eu nomei isso com teu nome, confundindo com a sua existência. E você passou a ser a materialização externa desse meu ideal interno. A minha projeção que saiu do meu controle, ganhando vida própria. Destruir você é destruir tudo isso. Eu não quero morrer, nem deixar essa parte colorida morrer... É a única coisa que me tira da vida cinza e sem-graça deste mundo cruel e capitalista. [Eu adoraria viver em um desenho animado.] Hoje sua face se confunde com outras faces de outras pessoas que se foram... Como um fantasma, uma alucinação, eu te vejo em outros rostos, em gestos de outras pessoas... é como se você estivesse em todos os lugares, em todas as pessoas, a todo momento. Isso me faz um pouco feliz e um pouco infeliz. Feliz porque outras pessoas podem ter as mesmas qualidades que você, hoje um ser inatingível... e infeliz porque, às vezes, acho que posso enlouquecer e me perder nisso tudo. Pra sempre. Só eu lembro disso, só eu estou sofrendo. Esse é um quadro que eu mesma pintei. E pensando nisso tudo hoje entendi Quintana quando ele disse que a imaginação é a memória que enloqueceu...
[Deus me livre da sanidade.]

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